A pericoronarite é uma patologia dos tecidos moles que circundam a coroa de um dente e se verifica, por norma, durante a sua erupção. Pode iniciar-se com uma situação de inflamação ligeira, evoluindo depois para uma situação de infeção pericoronária, ou seja, corresponde a uma reação inflamatória de origem infeciosa.
Esta reação inflamatória ou pericoronarite infeciosa é habitualmente aguda (pericoronarite aguda), isto é, de aparecimento súbito e desenvolvimento rápido, mas pode ter também caráter subagudo ou crónico, se a sua duração perdurar no tempo.
A pericoronarite do dente do siso é bastante frequente, e apesar de não ser uma afeção exclusiva dos sisos, é nestes dentes que ocorrem a quase totalidade dos casos. A pericoronarite ocorre principalmente nos sisos inferiores, pois o espaço existente entre a coroa destes dentes e a gengiva constitui uma área ideal para a acumulação de restos alimentares mais difíceis de remover durante a escovagem ou limpeza dos dentes, favorecendo, desta forma, a proliferação de bactérias.
Apesar de não ser por norma uma afeção grave, quando negligenciada, a pericoronarite apresenta um potencial risco de disseminação para as estruturas adjacentes, promovendo processos infeciosos mais severos e bem mais difíceis de tratar.
Na etiologia da pericoronarite estão algumas ocorrências, sendo as principais as que descrevemos de seguida:
- Dente parcialmente erupcionado ou retido (semi-incluso);
- Colonização de bactérias entre a coroa do dente e a gengiva que a recobre, devido ao acúmulo de alimentos;
- Sulco entre a coroa do dente e a gengiva profundo;
- Dificuldade de higienização do local em questão, ou higiene deficiente;
- Trauma dos tecidos moles que recobrem, ainda que parcialmente, a coroa do dente, ou provocado pelo dente antagonista (maxilar oposto), ou pela própria mastigação.
Devido ao facto de esta afeção estar particularmente relacionada com as complicações decorrentes da erupção dos dentes, os dentes do siso ganham particular destaque, pois são aqueles em que mais vezes se verificam limitações e dificuldade na completa erupção, principalmente pela falta de espaço e mau posicionamento dentário.
O dente do siso ou terceiro molar, também designado popularmente de "dente do juízo", inicia a erupção ou ”nasce”, geralmente, entre os 17 e os 21 anos, sendo, contudo normal e relativamente frequente iniciar a sua erupção após este intervalo de idades. O dente do siso, em condições normais, vai nascendo progressivamente sem apresentar sintomatologia, à semelhança dos restantes dentes, até terminar a sua completa erupção.
Na dentição definitiva existem 4 dentes sisos ou terceiros molares, 2 superiores e 2 inferiores, que nascem cronologicamente de forma aleatória, localizando-se atrás dos outros dentes, ou seja, no término das arcadas dentárias, em ambos os lados.
Em algumas situações, ocorre impactação dentária por dificuldade de erupção e o siso fica como um dente incluso ou semi-incluso. Tal situação ocorre quando não se verifica a natural erupção do siso, ficando o dente impactado e torto, ou mesmo preso no osso maxilar. A falta de espaço para o seu correto posicionamento na arcada dentária, está normalmente na origem deste problema, podendo esta situação causar dor de cabeça ou enxaquecas, dores nos maxilares e, por vezes, provocar também dor de ouvido, entre outra sintomatologia.
Estes problemas associados ao dente do siso, especificamente no que diz respeito à sua erupção parcial ou incompleta, estão, portanto, frequentemente relacionados com a ocorrência de pericoronarites, pelas razões já descritas.
Durante a gravidez, como existe maior propensão para a inflamação das gengivas devido às alterações hormonais, torna-se igualmente de alguma forma mais recorrente, a ocorrência de pericoronarite em gestantes durante a erupção dos sisos.